ANOS 80 - A MOVIDA PORTUGUESA.

1986. Estavamos a chegar ao final da Movida Espanhola à qual os artistas portugueses não foram indiferentes. Em todos os campos da arte, da música às artes plásticas. Eu vivia em Madrid nessa altura e embrenhei- me no final desta movida com artistas e escritores espanhóis. Os artistas plásticos iniciavam, com êxito, a sua démarche em Espanha. Julião Sarmento começara a figurar na Arco em Madrid, como um dos principais bastiões da arte portuguesa. Os músicos portugueses entravam em Vigo e conquistavam a movida viguense. Nomeadamente os Xutos e Pontapés conhecidos por Patadas Y Patadas. Depois daí foi um pulo para Madrid.

Em Madrid, a minha aposta foi a Rádio Cadena 3 onde ajudei a promover a música portuguesa. Aposta certa numa altura em que as bandas portuguesas ampliavam o mapa de concertos para Madrid. Também o crítico de arte e curador Alexandre Melo ajudava a promover as artes plásticas portuguesas em artigos bem aceites pelo público madrilenho, numa revista marcante daquela época, a SUR- EXPRÉS. João Pinharanda.

O factor diferenciador desta fase particular da musica portuguesa foi marcada há cerca de duas décadas por Rui Veloso com o álbum "Ar de Rock", que marcou a entrada em cena de uma nova geração na música portuguesa (http://anos80.no.sapo.pt).

Entre 1984 e 1986 dava- se uma espécie de Movida Portuguesa sendo a música e linguagem das bandas portuguesas de meados dos Anos 80, suas ideias ou ideais, formas de ser ou estar, criatividade, retórica, discurso, sido transversal a quase todos os sectores da vida moderna e criativa portuguesa.
Respirava- se uma Lisboa diferente, dinâmica, sonhadora... E é esta transversalidade que marca a nossa Movida.

O Bairro Alto ganhava novas referências à noite, com espaços que polvilhavam na noite, lugares de culto, o Frágil, Rock House, Três Pastorinhas, mais tarde o Targus... as Noites Longas. O fado tornou-se vizinho do rock, do funk, do jazz, da electro pop, das batidas africanas. A Música fundamentalmente de Cabo- Verde, começara em força em Alfama com Paulino Vieira, Dani Silva, e no Bana com Bana, Tito Morais, mais tarde Tito Paris. Tive o privilégio do Tito, a meu convite, ter feito parte do meu primeiro projecto musical com o Fernando António para a Polygram

Desta mistura de géneros, gostos e influências, floriu uma Lisboa multicolor, cosmopolita e vibrante. Figuras da noite surgiam. Hernani Miguel e Zé da Guiné, nas noites do Bairro Alto. A Margarida e o Alfredo, no Frágil. Os lugares de culto. Os lugares de encontro. Espaços cosmopolitas com linguagens diferentes marcavam Plateau, Kremlin, Alcântara- Mar. Nomes como os de Pedro Luz.

Em força, os GNR, Xutos e Pontapés, Rádio Macau, Heróis do Mar, 7ª Legião, irmãos Catita, Radar Kadafi, Delfins, Mier If Dada … Mão Morta … Entre os muitos espaços de concertos, erguia- se, como um gigante indestrutível, uma catedral do rock, o Rock Rendez- Vous,
Nasciam as agências com assinaturas diferentes. Os Malucos da Pátria, a exemplo, a agência que Pedro Ayres ajudou a fundar, representava artistas como os Mão Morta e os Xutos e Pontapés.
A label EMI- Valentim de Carvalho era a editora com um approach diferente e marcante na descoberta e reunião dos talentos portugueses. Francisco Vasconcelos e David Mourão Ferreira. Os Estúdios com o Angels Estudio e Valentim de Carvalho. Iria surgir a mesa analógica Solid State Logic dos Estúdios Valentim de Carvalho. Os Engenheiros de Som José Fortes, Tó Pinheiro. A Rádio Comercial ganhava Voz com Luis Filipe Barros, Jorge Pêgo. Ganhava o país do Rock. A geração de 80.

No cinema, era a vez de Joaquim Leitão, com uma aposta clara no cinema português, provocando uma revolução no grande écran português. O Conservatório de Lisboa fazia emergir jovens talentos como Edgar Pêra, Manuel Mozos. Os Musicais do Sudoeste foi a nossa aposta jovem - minha e do Edgar – na RTP.

A moda Portuguesa dava lugar às Manobras de Maio com todos os nomes alternativos da moda onde figuravam as meninas portuguesas de Ana Salazar. A dupla Eduarda Abbondaza e Mário Matos Ribeiro dava largas à imaginação.

Surgiam nomes inequívocos, gurus da palavra jornalística, como os de Miguel Esteves Cardoso e uma forma diferente - contudente para muitos! - de evocar a Portugalidade com Pedro Ayres de Magalhães ao leme. Nasciam os jornais dirigidos à música, a Música&Som e o Blitz tendo o segundo, dado o arrojo e originalidade, encontrado uma nova abordagem de sucesso no meio. Surgia um novo mindset no Humor Português com Herman José. E um novo mindset com semanários como o Independente.

A Editora Assirio&Alvim que tanto ajudou a destacar e evidenciar os escritores portugueses. Mário Cesariny é um dos escritores eleito. O testemunho artístico e irreverente de Al Berto. As Artes Plásticas com as grandes referências Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, Pedro Galapez, Pedro Proença. A fotografia de Daniel Blaufuks. O Jazz de Villas Boas traz frutos. O Hot Club pulsa forte na noite e traz nomes incontornáveis do jazz nacional para a plateia. Ouvia- se falar dos irmãos Moreira. E do primo Bernardo Sasseti. Consolidavam- se estilos. Mário Laginha. Maria João. Carlos Martins. Carlos Barreto. Nana Sousa Dias. E tantos Outros. A música clássica com Pedro Burmester.

O "profundo conhecimento da realidade arquitectónica portuguesa", e "a reflexão crítica e transmissão de conhecimento" de Manuel Graça Dias ajudam a criar uma nova "experiência" na cidade de Lisboa.
A cidade de Lisboa, a par da luz que lhe confere o atributo de cidade branca,  torna- se um espaço de magia. É marcada por uma forte sensualidade estética....

Cantam- na, filmam- na, pintam- na e esculpem- na como uma mulher cheia de sentidos e mistérios estendida ao longo do rio ... 



Comentários

  1. nos anos 80, Lisboa continuava atrasada décadas em relação às outras capitais europeias.

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